quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sem palavras... o texto está a ser traduzido para russo.


Arnaldo Ourique, jurista
 

Toiros à corda merecem
estatuto de Património


Escreveu recentemente um texto sobre a necessidade de se instituir a Tourada à Corda como Património da Humanidade. Como é que a ideia nasceu?
Para a feitura do meu recente livro Taurinidade Açoriana tive de fazer vários inquéritos a variadíssimas pessoas e juntei ao meu conhecimento anterior, sobretudo jurídico, um vasto leque de saberes desta área. Foi daqui que nasceu a ideia. Já tinha percebido pela análise da legislação que faço no dia-a-dia como investigador da Constituição Autonómica, que as artes taurinas estão em perigo porque o legislador regional é fraco e precário a fazer leis. Mas juntando a esse saber o conhecimento específico de todos quantos fazem uma parte técnica da taurinidade açoriana apercebi-me que era necessário chamar a atenção para esta problemática. Quando eu digo que a lei, por exemplo, altera o conceito de toiro de praça, isto nada diz às pessoas; parece assunto sem importância, mas não se apercebe da dimensão: foram proibidos de correr nas praças açorianas os toiros da Ilha Terceira. Daí, pois, a necessidade de sublinhar a necessidade para uma declaração da Unesco de modo a salvaguardar a nossa cultura. Agora sim, todos reparam nisto.

Qua reações teve quanto a esta ideia?
As melhores. Primeiro, tal texto está sendo traduzido para o inglês e o russo para oferecer ao turismo. Segundo, algumas pessoas dizem-me que é uma excelente ideia porque a taurinidade açoriana é um caso sério da cultura açoriana. E adentro dum círculo de pessoas desta área existe uma forte esperança de que pelo menos alguém olha para este tipo de assunto.

Quais os principais entraves para que a Tourada à Corda da Ilha Terceira seja declarada, ou pelo menos estudada no sentido de ser declarada Património da Humanidade?
Como é evidente não é, em rigor, a Unesco que faz esse trabalho. São os órgãos representativos do povo e esse povo que se organiza e prepara esse tipo de projeto. O maior entrave, pois, são as pessoas. Para já existe o choque da ideia. Mas estamos esperançados que depois disso virá finalmente o interesse genuíno; considero estranho que esta ideia nunca tivesse sido projetada.

Essa ideia terá pernas para andar, dado tratar-se duma área cultural sujeita a criticas por várias instituições?
Um pouco por todo o mundo existem várias declarações, de governos locais e de autarquias, que declaram a tauromaquia de interesse cultural, por exemplo, a Câmara Municipal da Praia da Vitória. Outro exemplo, em França o Conseil Constitucionnel, equivalente ao nosso Tribunal Constitucional, declarou agora que a tauromaquia, desde que antiga, é um direito de igualdade à diferença e, pois, considerou essa arte em conformidade com a Constituição. A tauromaquia no seu conjunto, sobretudo quando falamos na Ilha Terceira onde a Corrida de Praça e a Tourada à Corda são uma realidade cultural com mais de quinhentos anos, é difícil imaginar que não o consigamos. O meu já citado livro, embora com a legislação taurina açoriana, mostra que a Ilha Terceira é um caso único a nível mundial, tendo em conta sobretudo a sua antiguidade, a sua dimensão cultural, a dimensão da ilha e o seu isolamento atlântico: todas as localidades à volta duma pequena ilha de 400Km2 possuírem várias touradas por ano com atividades culturais antiquíssimas. Por isso se existe lugar no planeta onde a tauromaquia seja declarada património da humanidade é a Ilha Terceira - incomparavelmente.

Fonte: Diário Insular, 02/10/20

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