«Divertimentos bárbaros, impróprios de nações civilizadas, que servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade» Passos Manuel, 1836.
terça-feira, 13 de agosto de 2019
A luta pelo fim das práticas tauromáquicas
Quando a palavra "sadismo" escapa de um dicionário, entrando na verbalização e na prática, é porque a razão nos deu o alerta para algo inconcebível e macabro!
A lei dos homens penaliza apenas alguns desvios comportamentais, enquanto aplaude outros, por considerá-los de menor importância, no entanto, a dantesca visão de qualquer ser vivo sujeito a tortura, é sem sombra de dúvida a imagem de sociedades doentes e destituídas dos seus valores mais básicos, éticos e humanos!
É assim com quem aplaude o sangue e é assim com quem dele sustenta os seus instintos mais primários, dominando e torturando os seres mais frágeis, por lhe ser vedado legalmente o direito de o fazer aos da sua própria espécie, o que apenas acontece a indivíduos enfermos, pobres de espírito, ou depravados mentais, com evidente baixa auto estima e dificuldades óbvias de inserção num universo de paz e igualdade que a todos deveria pertencer!
A tauromaquia é, portanto, um caso grave de saúde pública, analisado cientificamente em comunidades e países mais desenvolvidos, mas ainda propositadamente ignorado onde se pratica!
Sem me alongar por outros meandros do sadismo humano e porque estamos na época de certas "tradições" abjectas, hoje precisei mais uma vez de dar largas aos sentimentos, já que não me é possível regenerar certas consciências, nem curar as inúmeras demências que neste mundo teimam mascarar, com argumentos descabidos e ridículos.
Vamos então à tourada e às suas variações de sadismo, geralmente potenciadas pelo álcool. Porque será que esta "tradição" ainda resiste, conseguindo ainda ser defendida por alguns com tanto desespero?
Verificam-se igualmente estes comportamentos de frustração e violência gratuita, no futebol, na caça e em espectáculos onde se aplaudem animais abusados, em evidente sofrimento e stress.
O frágil conceito de "cultura", ganha, nestes casos contornos bem distintos da sua real essência contemplativa e didáctica, para se tornar o escape dos sentimentos mais sórdidos e imorais.
A Igreja Católica, desde sempre coesa com os poderosos e desvirtuando a sua essência moral e compassiva, por iguais razões, compactua despudoradamente com estas práticas, porque questionar demais é perigoso e os "rebanhos" querem-se mansos, fáceis de manipular e sabiamente domesticados.
A corrupção fica assim impune, porque as instituições públicas continuam a financiar, tanto às claras como através de subterfúgios, todas estas atrocidades, enquanto as populações menos instruídas e esclarecidas, não percebem que esse escape das suas mais básicas frustrações, está apenas a ser usado para benefício das mesmas minorias que os enganam e exploram.
A luta pelo fim das práticas tauromáquicas, mexe com os interesses e vantagens de muitos, por isso, quando se contesta, ataca-se todo um sistema antagónico à evolução de um povo e ao seu direito à cultura, ao mesmo tempo que se formatam crianças para a continuidade de uma vergonha que coloca o nosso país na cauda das opiniões internacionais mais abalizadas e honestas.
É sem dúvida a corrupção e o compadrio que sustentam e vão mantendo possíveis, estas actividades que embora moribundas, só resistirão enquanto não se achar que é imperativo o seu desmembramento através da constante e aguerrida contestação, militância e do voto consciente, porque enquanto se alimentarem no poder governantes desonestos que se sentem seguros e protegidos por posições obsoletas e criminosas, jamais seremos um país digno de pertencer ao século XXI, nem seremos vistos por quem nos visita, como uma nação habitada por um povo civilizado, pertencente a uma velha Europa que apesar dos seus erros do passado, hoje se pretende exemplar pela sua cultura, ética e progresso.
Teresa Botelho
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