«Divertimentos bárbaros, impróprios de nações civilizadas, que servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade» Passos Manuel, 1836.
sexta-feira, 21 de junho de 2024
Carta enviada à Comissão Nacional de Proteção das Crianças
Exma. Sra. Rosário Farmhouse
Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens
Queremos alertar para uma situação de evidente perigo físico para crianças e jovens e de clara violação dos Direitos das Crianças a acontecer em próximos eventos, agendados pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (Açores), no âmbito das suas festas municipais, relacionados com a tauromaquia.
Está agendada para o dia 26 de Junho, às 10h, na Praça de Touros Ilha Terceira, um “Espectáculo Taurino para Crianças e Idosos”, também anunciado como “Aula Prática de Tauromaquia”. Neste evento, destinado a crianças, está anunciada a presença de um cavaleiro, um grupo de forcados e um bezerrista.
No dia seguinte, 27 de Junho, às 12h, na Rua de São Joâo, está agendada uma “Espera de Gado Infantil” com presença de touros, supostamente bezerros.
O anúncio destes eventos consta na agenda da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (https://sanjoaninas.cmah.pt) e são referidos, com mais pormenor, no Diário Insular de 4 de Junho.
Não é a primeira vez que são realizados este tipo de eventos integrados nas Festas Sanjoaninas do referido município. Na realidade, tem sido uma prática habitual em todos os anos anteriores à pandemia, estando novamente a ser realizados na actualidade. Isto apesar das nossas reiteradas denúncias públicas sobre o perigo e o contínuo maltrato das crianças.
Nas esperas de gado e outros eventos semelhantes as crianças e jovens são colocados em contacto directo com animais, aos quais, ao mesmo tempo, são incitados a agredir. Nos espectáculos taurinos e corridas de touros são obrigados a assistir à tortura sangrenta e impiedosa dos animais, não existindo nenhuma limitação de idade para assistir, sendo inclusivamente levadas à praça crianças do pré-escolar.
Estes eventos, infelizmente, não se limitam a estas festas e a estas datas. De facto, costumam ser repetidos, apenas um mês depois, nas festas concelhias do vizinho município da Praia da Vitória, com o qual é compartilhado o uso da Praça de Touros, com os mesmos promotores deste tipo de eventos.
O contínuo desrespeito pelas leis portuguesas sobre a idade de assistência a este tipo de espectáculos sangrentos e a contínua violação da Convenção dos Direitos das Crianças da ONU, que considera violência contra as crianças a presença nestes eventos de menores de 18 anos, requerem sem dúvida uma condenação e uma intervenção firme e decidida.
Assim, solicitamos a intervenção da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, nos termos que considere mais adequados, para conseguir a efectiva e necessária protecção das crianças na ilha Terceira.
Atentamente,
Movimento pela Abolição da Tauromaquia de Portugal
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores
20 de Junho de 2024
quinta-feira, 30 de maio de 2024
Maioria dos portugueses apoia a abolição da tauromaquia
Três em cada cinco portugueses são a favor de proibir a tauromaquia. Do lado contrário, uma em cada sete pessoas, uma reduzida minoria, defende a vigência legal desta prática aberrante baseada no sofrimento e na tortura de animais. São os dados da recente sondagem efectuada pela empresa Ipsos I&O Public, em maio de 2024, sobre um total de 2.500 pessoas de todo o país.
Segundo a referida sondagem, 60% da população portuguesa apoia a proibição das touradas, com 41% das pessoas a concordar plenamente com a proibição e outros 29% simplesmente a concordar. Sem uma posição definida sobre este tema, 24% das pessoas declararam ser neutras em relação à proibição, representando o segundo maior grupo entre as pessoas que responderam ao inquérito. Do outro lado, os defensores da continuidade das touradas representam só 15% da população, com 10% das pessoas simplesmente contra a proibição e outros 5% completamente contra.
Olhando para aquelas posições mais definidas, isto significa que dois em cada cinco portugueses concordam plenamente com a proibição da tauromaquia, enquanto só um em cada vinte defende plenamente a continuação desta prática.
A opinião favorável à proibição definitiva da tauromaquia é transversal a todos os sectores da sociedade portuguesa e a todos os quadrantes políticos. Assim, as pessoas que concordam com a proibição representam mais de metade dos votantes de todos os partidos políticos presentes no actual arco parlamentar.
O apoio à proibição, no entanto, tem uma expressão algo maior nos partidos da esquerda, enquanto os partidos da direita parecem concentrar o voto da pequena minoria que defende a continuação da tauromaquia. O apoio à proibição é também maior entre as mulheres, entre as pessoas mais novas, entre as pessoas com estudos universitários e entre os moradores de pequenas e grandes cidades.
Existindo na sociedade portuguesa um apoio tão importante a proibição da tauromaquia, assente nos votantes de todos os partidos políticos, cabe perguntar-se por que razão a opinião da maioria da população não é suficiente para proibir uma prática de características tão bárbaras, sádicas e sanguinárias como é a tauromaquia, cada vez mais contestada em todos os lugares do mundo.
Se a maioria população é claramente contra, quais são então os interesses que impedem a definitiva proibição da tortura de animais como espectáculo? O que existe por trás desta incompreensível situação, que tão gravemente ofende a sensibilidade e indigna a maioria dos portugueses? Por que razão o conceito de democracia não é aplicável para proibir uma prática violenta que objectivamente vai contra os valores mais essenciais da nossa civilização?
E esta mesma pergunta deve ser feita, com mais motivo ainda, perante a grande quantidade de dinheiros públicos que é destinada a financiar a tauromaquia. Segundo a mesma sondagem, a oposição a que a tauromaquia receba dinheiros públicos é ainda maior entre os portugueses, 71% das pessoas. E mais uma vez, esta posição maioritária é partilhada pelos votantes de todos os partidos políticos.
A maioria dos portugueses também apoia a proibição da entrada de menores de 18 anos neste tipo de espectáculos, 62% segundo a mesma sondagem. Esta é precisamente a mesma posição que é defendida desde há anos pelo Comité dos Direitos das Crianças da ONU, que considera a tauromaquia um espectáculo violento que coloca em risco a saúde física e mental das crianças que assistem ou participam nela. No entanto, mais uma vez, nada disto tem nenhum efeito.
Em conclusão, podemos dizer que em Portugal torturar animais como diversão é um privilégio, aparentemente sagrado, que ostenta uma pequena minoria da população. Ao mesmo tempo, é um enorme negócio nas mãos de uma pequena elite, sustentado sempre por dinheiros públicos e mantido graças à cumplicidade de determinados partidos políticos, alheios à vontade dos seus próprios votantes. Mas, para além disso, é um constante desrespeito à vontade democrática da população portuguesa, que não percebe como é que, neste nosso século, ainda pode existir e ser legal semelhante tipo de barbárie e de violência contra os animais.
A sondagem pode ser consultada aqui:
https://www.stieren.net/wp-content/uploads/2024/05/Results-IPSOS-Survey-bullfighting-DEF.pdf
MATP
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