«Divertimentos bárbaros, impróprios de nações civilizadas, que servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade» Passos Manuel, 1836.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
Alice Moderno, a SMPA e as touradas
Alice Moderno, a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e as touradas
A posição de Alice Moderno sobre as touradas é a de clara oposição às mesmas e foi manifestada publicamente por mais de uma vez, através dos seus escritos, de que são exemplos as suas Cartas das Ilhas, números XIX e XX. Na “Cartas das Ilhas – XIX”, dedicada a Luís Leitão, publicada no jornal “A Folha”, de 8 de Março de 1912, Alice Moderno relata que contrariada foi assistir a uma tourada a convite de amigos terceirenses e confessa a sua compaixão pelo cavalo “esquelético”, um “pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior” que “no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera…”. A fera (o touro) por seu lado, “será barbaramente farpeada, até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere”.
Na “Cartas das Ilhas – XX”, publicada no jornal “A Folha”, de 10 de Março de 1912, Alice Moderno confidencia que, para não ferir suscetibilidades, não fala no “tema perigosíssimo das toiradas”, nem comunica o que vai na sua alma aos terceirenses, que segundo ela são “ semi-espanhóis no capítulo de los toros, e não compreenderiam a minha excessiva sentimentalidade”.
No dia 23 de Abril de 1933, reuniu, na casa de Alice Moderno, a direção da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais para “deliberar sobre assuntos urgentes”. De acordo com o jornal Correio dos Açores, do dia 25 do mesmo mês, um dos assuntos a tratar eram as touradas com touros de morte. Na ocasião foi lido um ofício da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa a solicitar a colaboração da SMPA no sentido de pedir ao governo para que “não permita o estabelecimento neste país dos touros de morte. Ficou acordado enviar um telegrama “ao sr. Presidente do Ministério, manifestando a S. Exa o quanto magoaria a sensibilidade dos amigos dos animais a introdução de tão bárbaro divertimento, e quão deprimente seria para a civilização portuguesa o conhecimento do mesmo perante o mundo culto”.
A este propósito, convém recordar que os touros de morte haviam sido proibidos em Portugal, por decreto datado de 14 de abril de 1928, mas continuam, ainda hoje, legalmente, em Monsaraz e em Barrancos, o que não deixa de ser absurdo.
No relato de uma visita que fez a Espanha publicado no Correio dos Açores, de 2 de Fevereiro de 1935, Alice Moderno escreve “Barcelona seria um verdadeiro Éden “ se o autocarro “não tivesse parado em frente a um enorme edifício, de construção luxuosa, cujo fim o seu aspeto logo indicava, e deve ter custado à província alguns milhões de mal empregadas pesetas”.
O edifício em causa era a Praça de Touros Monumental, onde não há touradas desde Setembro de 2011, na sequência da proibição de touradas de praça, a partir de 1 de Janeiro de 2012, na Catalunha. A outra praça de touros, a Praça de Las Arenas, existente na mesma cidade foi transformada em centro comercial.
Ao estar frente à Praça de Touros, Alice Moderno lembrou-se dos “sofrimentos inauditos” de que eram vítimas os animais e acudiram à sua mente o que escreveu o escritor Victor Hugo:
“Em todas as corridas de touros aparecem três feras, que são o touro, o toureiro e o público. O grau de brutalidade de cada um destes brutos pode calcular-se pelo seguinte:
O touro é obrigado.
O toureiro obriga-se.
O público vai por um ato espontâneo da sua soberana vontade e, ainda por cima, dá dinheiro.
Observem bem esta graduação:
O touro, provocado, defende-se.
O toureiro, fiel ao seu compromisso, toureia.
O público diverte-se.
No touro há força e instinto.
No toureiro, valor e destreza.
No público não há senão brutalidade”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30522, de 31 de Dezembro de 2014)
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Borlas para os criadores de touros usados em touradas
Nos Açores há os baldios e há as baldas.
Nos Açores existem baldios onde é criado gado bovino sob duas modalidades: arrendamento ou prestação de pastoreio, pela administração.
Em qualquer dos casos está previsto um pagamento pela ocupação dos espaços, sob a forma de renda anual ou por cabeça de gado colocada nos terrenos. As receitas obtidas são “distribuídas na proporção de 50% para as respetivas autarquias e 50% para os cofres da Região, contribuindo assim para um reforço das dotações disponíveis para investimentos que possam trazer benefícios para as populações”.
Também nos Açores, mais propriamente na ilha Terceira, há as baldas que são terrenos públicos que foram cedidos gratuitamente a ganadeiros para criarem animais usados nas anacrónicas touradas.
Embora tenhamos dúvidas sobre se a criação de gado é a melhor ocupação para algumas das áreas disponibilizadas, não é aceitável que os proprietários do “gado manso” sejam obrigados a desembolsar, enquanto os donos do “gado bravo” estejam isentos de qualquer pagamento.
A não ser que as afirmações de que os touros da Terceira em contato telepático com um ou mais “cientistas” da Universidade dos Açores tenham aprendido a distinguir plantas invasores e plantas endémicas e sejam um dos principais pilares na preservação da flora açórica.
Embora ainda longe de ser provada a hipótese levantada por um dos académicos, que considera que os adeptos das touradas são mais ambientalistas, sabe-se que numa recente visita à ilha Terceira um destacado opositor à tauromaquia deslocou-se a uma das áreas na Rede Natura onde foi colocado “gado bravo” e verificou com algum espanto que um dos touros estava, qual humano, sentado e possuía entre as unhas uma chave dicotómica para identificação de espécies.
Deixando de parte a nota de humor, achamos vergonhosa a descriminação de que são vítimas alguns açorianos. Os adeptos da tortura são os filhos, os outros são os enteados.
Algures nos Açores, 23 de Dezembro de 2014
Manuel Oliveira
Nos Açores existem baldios onde é criado gado bovino sob duas modalidades: arrendamento ou prestação de pastoreio, pela administração.
Em qualquer dos casos está previsto um pagamento pela ocupação dos espaços, sob a forma de renda anual ou por cabeça de gado colocada nos terrenos. As receitas obtidas são “distribuídas na proporção de 50% para as respetivas autarquias e 50% para os cofres da Região, contribuindo assim para um reforço das dotações disponíveis para investimentos que possam trazer benefícios para as populações”.
Também nos Açores, mais propriamente na ilha Terceira, há as baldas que são terrenos públicos que foram cedidos gratuitamente a ganadeiros para criarem animais usados nas anacrónicas touradas.
Embora tenhamos dúvidas sobre se a criação de gado é a melhor ocupação para algumas das áreas disponibilizadas, não é aceitável que os proprietários do “gado manso” sejam obrigados a desembolsar, enquanto os donos do “gado bravo” estejam isentos de qualquer pagamento.
A não ser que as afirmações de que os touros da Terceira em contato telepático com um ou mais “cientistas” da Universidade dos Açores tenham aprendido a distinguir plantas invasores e plantas endémicas e sejam um dos principais pilares na preservação da flora açórica.
Embora ainda longe de ser provada a hipótese levantada por um dos académicos, que considera que os adeptos das touradas são mais ambientalistas, sabe-se que numa recente visita à ilha Terceira um destacado opositor à tauromaquia deslocou-se a uma das áreas na Rede Natura onde foi colocado “gado bravo” e verificou com algum espanto que um dos touros estava, qual humano, sentado e possuía entre as unhas uma chave dicotómica para identificação de espécies.
Deixando de parte a nota de humor, achamos vergonhosa a descriminação de que são vítimas alguns açorianos. Os adeptos da tortura são os filhos, os outros são os enteados.
Algures nos Açores, 23 de Dezembro de 2014
Manuel Oliveira
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Cidadãos protestam pela realização de touradas no concelho da Ribeira Grande
Mil cento e quarenta e duas (1142) pessoas assinaram a petição enviada esta semana ao presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, protestando pela recente realização de diversas touradas no município.
Os subscritores da petição pedem taxativamente ao Presidente da Câmara Municipal, Dr. Alexandre Gaudêncio, que cumpra a deliberação aprovada na Assembleia Municipal de impedir o licenciamento de touradas no concelho.
No texto da petição, os peticionários manifestam a sua indignação pela importação para este concelho do norte da ilha de São Miguel de um espectáculo que nem faz parte da tradição concelhia, considerando ainda que as touradas são um espectáculo retrógrado, envolvendo maltrato e tortura de animais, que está a ser banido de todos os países do mundo onde ainda se realizam, não podendo ficar o concelho da Ribeira Grande à margem da modernidade, e muito menos introduzir agora estes costumes anacrónicos.
Os assinantes também manifestam a sua preocupação pelo facto de este tipo de espectáculos violentos produzirem frequentemente numerosos feridos, ou até mortos, nas localidades onde se realizam. É de lembrar que na Terceira e nas outras ilhas as touradas à corda serem responsáveis, cada ano, em média, por uma pessoa morta e por mais de 300 feridos.
Os cidadãos apelam, assim, ao presidente da Câmara Municipal para que o concelho se converta num referente no respeito pelo cuidado e bem-estar dos animais, no apego aos valores naturais e no desenvolvimento do turismo de natureza, actividades incompatíveis com a introdução da prática das touradas, caracterizadas por insensibilizar e deseducar as pessoas sobre a violência exercida sobre os animais.
Para além do exposto, é lamentável que estas touradas se tenham realizado em bairros ou locais do concelho da Ribeira Grande onde existem e são patentes graves problemas sociais, parecendo que existe uma estratégia, por parte de alguns responsáveis, de criar uma “cultura para pobres” onde o álcool e o maltrato de animais são os protagonistas, condenando estas pessoas a uma maior degradação cultural, muito longe da obrigação democrática de qualquer entidade oficial de elevar o nível cultural dos cidadãos.
O texto da petição pode ser visto em:
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=anti-tourada
Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
12/12/2014
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